Quanto vale a ‘herança’ de 32 milhões de Cruzados encontrada por irmãos em Tocantins

No norte de Tocantins, na pequena cidade de menos de 200 mil habitantes de Araguaína, Waloar Pereira Magalhães e os irmãos dele encontraram uma “herança” de 32 milhões guardada a vida inteira pelo falecido pai deles em uma mala escondida no quarto.

32 milhões soam como uma fortuna, mas, na verdade, valem centavos.

A mala encontrada pelos irmãos estava cheia de Cruzados, moedas e notas do século passado. Cruzado (Cz$) foi a moeda corrente do Brasil durante a década de 1980, com vigência entre os anos 1986 e 1989.

Desde então, o país teve outras quatro moedas: Cruzado Novo (1989-1990), Cruzeiro (1990-1993), Cruzeiro Real (1993-1994) e Real (1994-hoje).

Seguindo a conversão histórica de todas essas moedas, atualmente, 1 Real equivale a 2,75 bilhões de Cruzados. Ou seja, os 32 milhões de Cruzados de Waloar e dos irmãos valem R$ 0,01 – sim, um centavo de real.

Cruzados, moeda vigente no Brasil entre 1986-1989. (Foto: Reprodução/ TV Anhanguera/ g1)

O que faço se eu encontrar uma fortuna em moeda antiga?

Em resposta ao InfoMoney, o Banco Central afirmou que não é possível trocar Cruzados por Real. O dinheiro antigo só tem valor atualmente no mercado numismático, ou seja, para colecionadores de moedas.

“Devem ser observados os prazos de recolhimento quando há troca de padrão monetário, o que ocorria geralmente nos períodos de alta inflação. Após o Real, que recentemente completou 30 anos, essa troca não mais ocorreu”, disse o BC.

Na troca de Cruzado para Cruzado Novo, o pai de Waloar já veria um grande ajuste de valor no seu montante se tivesse feito a troca na época. Os 32 milhões de Cruzados se tornariam 32 mil Cruzados Novos. A substituição de moeda foi com a equivalência de 1.000 Cruzados para 1 Cruzado Novo.

As três mudanças que vieram depois tiveram ajustes parecidos, culminando na troca do Cruzeiro Real para Real, com 2.750 Cruzeiros Reais equivalendo a 1 Real.

Numismática

Cruzados, moeda vigente no Brasil entre 1986-1989. (Foto: Reprodução/ Wikimedia Commons)

O mercado numismático mencionado pelo Banco Central é um setor paralelo, não vinculado ao órgão do governo, que trabalha com o estudo de moedas, medalhas e outros itens de valor financeiro do ponto de vista histórico, artístico e econômico.

Normalmente é movimentado por colecionadores, mas também pode trabalhar com museus e órgãos de preservação da história.

Segundo André Luiz Padilha, presidente do Clube Numismático do Rio de Janeiro, consultado pela TV Anhanguera que contou a história de Waloar e seus irmãos em primeira mão, o dinheiro encontrado não está em condições adequadas para o mercado de colecionadores.

Padilha observou que as notas estavam dobradas, com manchas e marcas. “Têm um valor numismático muito baixo comparado às cédulas muito novas. Cédulas gastas já não tem mais valor nenhum”, afirmou à reportagem.

Em sites do mercado numismático é possível verificar preços variados por moedas e cédulas, considerando o estado de conservação, se é uma edição especial e as figuras estampadas.

Uma cédula de 500 Cruzados com Villa Lobos, de 1987, em bom estado de conservação, estava avaliada em R$ 1,88. Já três moedas de 100 Cruzados, de 1988, celebrando a abolição da escravidão, apresentava um preço de R$ 200.

A recomendação de Padilha para os irmãos de Araguaína foi doar as notas e moedas para museus. No Brasil atual, 32 milhões de Cruzados só valem a história e a memória.

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